segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O desafio do Glauco - Parte 2

Continuando o projeto de colocar as postagens em dia... Ainda sobre o desafio proposto em agosto. Abaixo o texto da colega Jorcenita Alves Vieira.

Foi há dezessete anos, em Rio Grande. Eu havia começado o curso de Biblioteconomia quando a professora da disciplina Evolução dos livros e Bibliotecas solicitou que escrevêssemos um texto falando sobre a nossa relação com o livro, ou como tínhamos iniciado o hábito da leitura. Como “a história se repete sempre uma segunda vez, há aproximadamente um mês, foi-nos solicitado que produzíssemos um pequeno texto contando sobre os motivos pelos quais começamos a ler, ou mais precisamente o que nos tornou leitores.

Hoje é sabido que é nos livros que a criança aprende a desvendar os mistérios da escrita, que o cientista oferece à posteridade suas teses, antíteses e sínteses, que o filósofo divaga entre o Ser e o Não Ser, entre sombras e luzes, que o poeta divaga abrindo seu coração em que o Eu, o Outro, e o Nós encontram informações e conhecimento, fé e esperança, vida além da vida.
Durante boa parte de minha infância, para não falar em toda, tive um contato a distância com o livro, exceto a Bíblia, que me era apresentada como verdade imutável, como a palavra de Deus falando diretamente a nós, meros seres mortais. Nas raras oportunidades que me foram dadas, folheava Bíblias ilustradas e então conseguia associar às figuras ali apresentadas, histórias anteriormente assimiladas, através da tradição oral. Aquelas figuras foram as minhas primeiras leituras dos livros e me fascinavam de tal forma que até hoje sinto uma certa atração por filmes e histórias que narram a vida dos povos da antiguidade, como hebreus, fenícios, persas, egípcios, romanos, etc.
Em 1978 entrei para a Escola formal, surgiu, então, o meu primeiro contato com o livro como fonte de educação e conhecimento. Aprendi a ler e valia-me desta habilidade para ler, reler e decorar histórias dos livros, recitando, envergonhada, diante de uma sorridente diretora e de uma orgulhosa professora.
Lembro da minha decepção quando no intervalo procurava a biblioteca e desolada olhava a porta fechada, e como a maioria das crianças, logo me punha a correr e brincar junto aos meus colegas de classe, perdendo um mundo fantástico que ficava chaveado na hora do recreio.
De 1982 a 1985, passei a ler alguns dos clássicos da literatura brasileira, autores como Machado de Assis, José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, gibis, coleções de livros de bolso, livros da Série Vaga-Lume e romances das coleções Júlia, Sabrina, Bianca e Barbara Cartland. No entanto, sempre foi-me ordenado apagar a luz e dormir, e assim, uma vez mais, um mundo fantástico ficava no escuro e eu não conseguia ir muito além.
Depois de alguns anos, passei a ler livros mais volumosos, o que não configurava, no entanto, maior complexidade ou qualidade. Tratava-se de livros relativamente fáceis, com pouco conteúdo reflexivo, mas que me proporcionavam indescritível prazer. Li autores como Daniele Steel, Irwing Wallace, Arthur Hailey, etc. Neste período li a Bíblia. Era muito comum na Bíblia marcarem prazos de três dias e escolherem três pessoas para determinadas finalidades, Lucifer levou consigo a terça parte dos anjos, três filhos de Noé repovoaram a terra após o dilúvio, Daniel orava três vezes por dia, Jesus ressuscitou no terceiro dia, três foram os reis magos, até as democracias atuais são constituídas de 3 poderes... Talvez influenciada pelo misticismo do número 3, li a Bíblia três vezes, neste período.
Em 1990, quando entrei para o curso de Licenciatura em História, percebi o quanto havia perdido e cheguei à conclusão de que, com as leituras que eu tinha, eu conhecia pouca coisa. Nunca havia lido a Divina Comédia, não conhecia O Nome da Rosa, nunca tinha lido sobre a História de Tróia, em suma, havia lido poucos livros proveitosos para a minha vida acadêmica e para entender um pouco a complexidade do mundo.
Concluí que, como não conseguiria ler todos os autores e livros do mundo, ao menos deveria tentar ler os bons e consagrados autores e os clássicos da literatura universal. Foi então que, preocupada com este problema, que me era apresentado, comecei a ler Tudo o que você precisa ler sem ser um rato de biblioteca: roteiro completo dos livros básicos para a sua vida, de Luiz Carlos Lisboa, onde havia sugestões de livros essenciais para vida. Me perdi lendo Satiricon de Petrônio, me surpreendi lendo Decameron, de Boccaccio, me deliciei lendo Gargântua de Rabelais e viajei com Dom Quixote, e nos mais de 8 volumes das Mil e uma noites.
O livro em si, sempre foi para mim um prazer. Ele tem a capacidade de me transportar para um outro mundo cheio de surpresas, encantos, alegrias, como também dores, sofrimentos e até decepções. Um mundo não muito diferente do que vivo, mas que tem a particularidade de fazer as coisas acontecerem em um nível que dá mais sentido, afinal, para Daniel Pennac “A virtude paradoxal da leitura é de nos abstrair do mundo para nele encontrar algum sentido”.
Fascino-me com a capacidade dos autores, com a narrativa, com a descrição longa ou sucinta, objetiva ou subjetiva, com o fato em si, com as histórias reais, imaginárias ou fantásticas, dos livros. Abro-os com cuidado, principalmente quando novos, evito dobrar as páginas. Quando carrego os livros, faço-o com orgulho, pois sei que eles trazem informações que poderão se transformar em conhecimento, permitindo-nos sair do obscurantismo e alcançar a luz do conhecimento, transformando-nos em pessoas um pouco melhores, pois, além de educar a alma, os livros fecundam o saber, mudam as pessoas, preenchem os vazios e iluminam a consciência. E, acima de tudo, é ele, o Livro, que traz a nossa história, a história da humanidade.
Os livros trazem, por mais específicos que sejam, Histórias extraordinárias, que excedem As mil e uma noites de leitura, e Sob a luz das estrelas podemos folheá-los e fazer nossa imaginação voar, como fez Fernão Capelo Gaivota, descobrindo assim, que Felicidade não se compra, mas seguindo O processo de leitura consegue-se conquistá-la a cada página, a cada Metamorfose, a cada conhecimento adquirido e Se houver amanhã, com Guerra e/ou Paz, teremos a oportunidade de aplicar este conhecimento, para tentar chegar a uma sociedade mais humana e mais justa, onde o Amor nunca é demais e poderemos viver “sem” Anos de solidão quem sabe num País das maravilhas.

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