Foi há dezessete anos, em Rio Grande.
Eu havia começado o curso de Biblioteconomia quando a professora da
disciplina Evolução dos livros e Bibliotecas solicitou que
escrevêssemos um texto falando sobre a nossa relação com o livro,
ou como tínhamos iniciado o hábito da leitura. Como “a história
se repete sempre uma segunda vez”, há aproximadamente um
mês, foi-nos solicitado que produzíssemos um pequeno texto contando
sobre os motivos pelos quais começamos a ler, ou mais precisamente o
que nos tornou leitores.
Hoje é sabido que é nos livros que a
criança aprende a desvendar os mistérios da escrita, que o
cientista oferece à posteridade suas teses, antíteses e sínteses,
que o filósofo divaga entre o Ser e o Não Ser, entre sombras e
luzes, que o poeta divaga abrindo seu coração em que o Eu, o Outro,
e o Nós encontram informações e conhecimento, fé e esperança,
vida além da vida.
Durante boa parte de minha infância,
para não falar em toda, tive um contato a distância com o livro,
exceto a Bíblia, que me era apresentada como verdade imutável, como
a palavra de Deus falando diretamente a nós, meros seres mortais.
Nas raras oportunidades que me foram dadas, folheava Bíblias
ilustradas e então conseguia associar às figuras ali apresentadas,
histórias anteriormente assimiladas, através da tradição oral.
Aquelas figuras foram as minhas primeiras leituras dos livros e me
fascinavam de tal forma que até hoje sinto uma certa atração por
filmes e histórias que narram a vida dos povos da antiguidade, como
hebreus, fenícios, persas, egípcios, romanos, etc.
Em 1978 entrei para a Escola formal,
surgiu, então, o meu primeiro contato com o livro como fonte de
educação e conhecimento. Aprendi a ler e valia-me desta habilidade
para ler, reler e decorar histórias dos livros, recitando,
envergonhada, diante de uma sorridente diretora e de uma orgulhosa
professora.
Lembro da minha decepção quando no
intervalo procurava a biblioteca e desolada olhava a porta fechada, e
como a maioria das crianças, logo me punha a correr e brincar junto
aos meus colegas de classe, perdendo um mundo fantástico que ficava
chaveado na hora do recreio.
De 1982 a 1985, passei a ler alguns
dos clássicos da literatura brasileira, autores como Machado de
Assis, José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, gibis, coleções
de livros de bolso, livros da Série Vaga-Lume e romances das
coleções Júlia, Sabrina, Bianca e Barbara Cartland. No entanto,
sempre foi-me ordenado apagar a luz e dormir, e assim, uma vez mais,
um mundo fantástico ficava no escuro e eu não conseguia ir muito
além.
Depois de alguns anos, passei a ler
livros mais volumosos, o que não configurava, no entanto, maior
complexidade ou qualidade. Tratava-se de livros relativamente fáceis,
com pouco conteúdo reflexivo, mas que me proporcionavam
indescritível prazer. Li autores como Daniele Steel, Irwing Wallace,
Arthur Hailey, etc. Neste período li a Bíblia. Era muito comum na
Bíblia marcarem prazos de três dias e escolherem três pessoas para
determinadas finalidades, Lucifer levou consigo a terça parte dos
anjos, três filhos de Noé repovoaram a terra após o dilúvio,
Daniel orava três vezes por dia, Jesus ressuscitou no terceiro dia,
três foram os reis magos, até as democracias atuais são
constituídas de 3 poderes... Talvez influenciada pelo misticismo
do número 3, li a Bíblia três vezes, neste período.
Em 1990, quando entrei para o curso de
Licenciatura em História, percebi o quanto havia perdido e cheguei à
conclusão de que, com as leituras que eu tinha, eu conhecia pouca
coisa. Nunca havia lido a Divina Comédia, não conhecia O
Nome da Rosa, nunca tinha lido sobre a História de Tróia,
em suma, havia lido poucos livros proveitosos para a minha vida
acadêmica e para entender um pouco a complexidade do mundo.
Concluí que, como não conseguiria
ler todos os autores e livros do mundo, ao menos deveria tentar ler
os bons e consagrados autores e os clássicos da literatura
universal. Foi então que, preocupada com este problema, que me era
apresentado, comecei a ler Tudo o que você precisa ler sem ser um
rato de biblioteca: roteiro completo dos livros básicos para a
sua vida, de Luiz Carlos Lisboa, onde havia sugestões de livros
essenciais para vida. Me perdi lendo Satiricon de Petrônio,
me surpreendi lendo Decameron, de Boccaccio, me deliciei lendo
Gargântua de Rabelais e viajei com Dom Quixote, e nos
mais de 8 volumes das Mil e uma noites.
O livro em si, sempre foi para mim um
prazer. Ele tem a capacidade de me transportar para um outro mundo
cheio de surpresas, encantos, alegrias, como também dores,
sofrimentos e até decepções. Um mundo não muito diferente do que
vivo, mas que tem a particularidade de fazer as coisas acontecerem em
um nível que dá mais sentido, afinal, para Daniel Pennac “A
virtude paradoxal da leitura é de nos abstrair do mundo para nele
encontrar algum sentido”.
Fascino-me com a capacidade dos
autores, com a narrativa, com a descrição longa ou sucinta,
objetiva ou subjetiva, com o fato em si, com as histórias reais,
imaginárias ou fantásticas, dos livros. Abro-os com cuidado,
principalmente quando novos, evito dobrar as páginas. Quando carrego
os livros, faço-o com orgulho, pois sei que eles trazem informações
que poderão se transformar em conhecimento, permitindo-nos sair do
obscurantismo e alcançar a luz do conhecimento, transformando-nos em
pessoas um pouco melhores, pois, além de educar a alma, os livros
fecundam o saber, mudam as pessoas, preenchem os vazios e iluminam a
consciência. E, acima de tudo, é ele, o Livro, que traz a nossa
história, a história da humanidade.
Os livros trazem, por mais específicos
que sejam, Histórias extraordinárias, que excedem As mil
e uma noites de leitura, e Sob a luz das estrelas podemos
folheá-los e fazer nossa imaginação voar, como fez Fernão
Capelo Gaivota, descobrindo assim, que Felicidade não se
compra, mas seguindo O processo de leitura consegue-se
conquistá-la a cada página, a cada Metamorfose, a cada
conhecimento adquirido e Se houver amanhã, com Guerra e/ou
Paz, teremos a oportunidade de aplicar este conhecimento, para
tentar chegar a uma sociedade mais humana e mais justa, onde o Amor
nunca é demais e poderemos viver “sem” Anos de solidão
quem sabe num País das maravilhas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário