domingo, 18 de novembro de 2012

Finados para agnósticos, ateus e crentes

por Iuri Azeredo

O livro “Religião para ateus” do Alain de Botton me abriu para novas considerações, enquanto me subsidiou para coisas que eu já pensava.
O feriado dos finados. Uma data que, aqui, tem um teor religioso e, mesmo, mórbido – ou ao menos de tristeza opressiva. Além disso, foca-se, para cada um, nas pessoas que conviveram mais diretamente conosco: os nossos parentes mortos, especialmente.
Sei que há lugares onde o que existe é um “Festa dos Mortos”, com quitutes e farto consumo de bebidas e até bailes. Ou seja, paradoxalmente, há um extravasamento da vida, da alegria, da mundanidade em homenagem aos mortos...



Lembro que, quando piá, íamos, pai, mãe, irmão, avó e demais parentela para o cemitério de Ponte Queimada, onde, estava (e está) enterrado o meu avô materno e outros ex-chegados da família da minha mãe. Um caminhão de bebidas ficava estacionado à sombra de grandes plátanos em frente ao muro de pedras do cemitério e, se a minha memória não me prega peças, havia churrasqueiras onde se preparavam carnes para o almoço. Quer dizer, havia um caráter festivo, de diversão (ao menos para as crianças), de encontro comunitário – entre vivos! – naquela visita aos túmulos, quando se aproveitava para lavar, reenfeitar e até fazer reformas das lápides e jazigos – além de orar pelas almas dos falecidos, claro.
Mas o que hoje me parece ficar patente é a contrição um tanto quanto depressiva, além de ser cada vez mais formalidades anuais mais ou menos “obrigatórias”, sem uma adesão coletiva de familiares, “sobrando” para os mais antigos a reverência aos já definitivamente antepassados.
Max Weber tem o conceito de “desencantamento”, que é para mim a explicação para o afastamento dos cemitérios da gerações como a minha, formadas por uma mentalidade científica já consolidada, descreditadas no sobrenatural em qualquer sentido.
Entretanto, não seria bacana reformar isso, pegando carona no que propõe o Botton? (“Santa utopia, meu caro”, já vejo dizendo-me!) Finados, Dia dos Mortos, poderia ser uma Comemoração aos Antepassados (ou um nome que “pegasse” melhor).
Seria um dia de reverenciar a memória não só de parentes e amigos, que já não têm existência física e que, independente de crença religiosa, continua a existir em nossas memórias. Ou aqueles/as que se notabilizaram e ficaram registrados por feitos – livros, relatos, inventos – essa infinidade de gente que construiu os povos, a humanidade no que ela tem de mais bacana. (Assim é que energúmenos, caso de abomináveis ensandecidos “hitlers”, deixaríamos para uma data de pranto, mesmo!)
Seria uma data de reconhecimento, agradecimento e estímulo a uma “vida significativa”, voltada para as coisas coletivas.
Os egoístas e os maldosos, com certeza, não teriam vez nesta “festa”. Como eu disse, poderia haver uma data para lamentá-los fervorosamente – para que também não esqueçamos que, assim como há pessoas queridíssima, gênios e heróis, há muitos mesquinhos, vilões, violentos torturadores, sanguinários e outras classificações para pequenos e grandes desgraçados da humanidade.

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